O crescimento potencial, que mede o ritmo em que as economias podem
crescer ao longo do tempo sem ter problemas inflacionários, já vinha
desacelerando nas economias mais ricas antes da crise financeira devido
ao envelhecimento das populações e a uma queda na inovação tecnológica.
No entanto, quedas no investimento privado e no crescimento do emprego
reduziram o crescimento anual potencial nesses países para 1,3% entre
2008 e 2014, meio ponto percentual abaixo do período pré-crise, de
acordo com o estudo do FMI.
O estudo, que faz parte do relatório "Perspectiva Econômica Global" do
FMI, pode servir de estrutura para discussões sobre como impulsionar o
crescimento quando autoridades econômicas mundiais se reunirem em
Washington na semana que vem para as reuniões de primavera do FMI e do
Banco Mundial.
Para os próximos cinco anos, o crescimento anual potencial das
economias avançadas deve avançar para 1,6%, ainda abaixo das taxas de
crescimento pré-crise, tornando mais difícil a redução das altas dívidas
pública e privada, segundo o FMI.
Com taxas de juros baixas, "a política monetária nas economias
avançadas podem novamente ser confrontadas com o problema do piso de
zero se choques adversos ao crescimento se concretizarem", disse o FMI.
O Fundo disse também que a demanda fraca na zona do euro e no Japão
podem levar a um crescimento potencial ainda menor que o previsto. O
estudo foi divulgado antes das projeções econômicas globais do FMI na
semana que vem.
Nos mercados emergentes, o crescimento anual potencial caiu para 6,5%
de 2008 a 2014, cerca de 2 pontos percentuais mais baixo do que antes da
crise, e a expectativa é que recue ainda mais para 5,2% durante os
próximos cinco anos conforme a população envelhece, limitações
estruturais restringem o crescimento de capital e a produtividade
desacelera.
Uma queda projetada no potencial de crescimento da China, segunda maior
economia do mundo, pode ser ainda mais profunda no momento em que o
país faz a transição de uma economia guiada por investimentos para uma
baseada no consumo, disse o FMI.
O FMI recomendou que economias ricas sustentem demanda e o
investimento, incluindo mais recursos para infraestrutura, pesquisa e
desenvolvimento.Economias emergentes também devem impulsionar os gastos
com infraestrutura, livrar-se de regulações excessivas e melhorar a
qualidade da educação, disse o FMI.
Em uma análise ampla da economia e retrospectiva das crises históricas durante a Expogestão, o professor de estratégia da Fundação Dom Cabral, Paulo Vicente dos Santos, afirmou que a crise brasileira atual
não é culpa deste governo apenas, mas fruto de uma política que se
mantém há 30 anos sem resultado porque não prioriza um plano de longo
prazo para o País.
— A tirania do curto prazo impede o pensamento de longo prazo e a solução não virá em quatro anos — afirmou.
O
professor enfatizou que, no cenário atual, ganha aquele que tiver
liquidez, já que na crise é preciso fazer caixa para pagar os
compromissos e os ativos são vendidos abaixo do valor. Ele acredita que
nos próximos 18 meses haverá oportunidades interessantes no mercado para
aquisições e fusões, por exemplo.
O pior momento da crise,
prevê, será em dezembro de 2016. Segundo ele, as empresas ainda vão
continuar apertando o cinto, algumas vão falir no caminho e, no final, a
economia vai terminar no zero a zero ou encolher de 1% a 2% no ano que
vem. Para ele, o mundo todo está entrando em crise e ela será pior lá
fora.
Sobre o ajuste fiscal, Santos diz que a presidente Dilma
Rousseff fez metade do trabalho ao diminuir benefícios e aumentar
impostos sem um planejamento para redução de custos. Ele criticou o
corte de recursos para investimentos porque compromete o crescimento de
longo prazo.
Empresas
No curto prazo, o professor aconselha maior atenção das empresas nas
áreas de finanças e de gestão de pessoas, investindo com moderação e
mantendo o caixa. Como contratar e demitir custa caro, sugere estudar
opções como reduzir a carga de trabalho ou negociar com o funcionário
para que ele se torne pessoa jurídica, tudo isto para manter os
profissionais para o período pós-crise. Nas micro e pequenas empresas, o
cuidado com as finanças é vital para sobrevivência.
— O risco de o caixa matar uma micro e pequena empresa é grande.
Protecionismo
Santos é defensor da redução do protecionismo. Para ele, o Brasil
ficou isolado demais, fazendo um caminho inverso ao da China desde o
final dos anos 70. Os investidores querem colocar muito dinheiro no
Brasil porque o País está longe das zonas de conflito no mundo. Não
estão vindo por causa do protecionismo exagerado
— O modelo mental do Brasil é de uma ilha, está de costas para a América do Sul e tem medo do investimento estrangeiro.
A
pressão pela redução do protecionismo deve aumentar, afirma, e ele
prevê que o Brasil se tornará um porto seguro para os investidores daqui
a cinco, 10 anos.
O protecionismo é um dos muitos gargalos do
Brasil apontados pelo professor, ao lado da infraestrutura em
transporte, educação, impostos altos, falta de investimento em pesquisa e
desenvolvimento, em energia, entre outros.
A saída, acredita,
está no planejamento e na tecnologia e defende um olhar atento à
inovação em mercados, não apenas em produtos.
Classe média
Para ele, os partidos brasileiros não estão preparados para lidar com
as demandas da nova classe média, que quer que o Estado funcione, com
educação, segurança e saúde. A classe política, diz, insiste em falar
para uma classe popular que não existe mais.
Estratégias
O professor também mostrou estratégias de países importantes. Em
relação à China, a necessidade por recursos naturais a fez investir na
Indonésia, África e América do Sul. Na África há 10 anos, os chineses
colocaram recursos quando o continente necessitava e têm desenvolvido o
agronegócio. Movimento que merece atenção por parte do Brasil, alerta.
Enquanto
isso, observa que o Brasil está se desindustrializando nos últimos 25
anos e, quando isto acontece, vê um retorno ao século 19, exportando
commodities.
O mundo caminha para formação de grandes blocos nas
próximas décadas, em um processo não linear. Os Estados Unidos também
investem de US$ 70 bilhões a US$ 80 bilhões em várias tecnologias, em
áreas como nanotecnologia, biotecnologia e medicina avançada para
elevar a produtividade, parte da estratégia para levar de volta a
manufatura para os Estados Unidos.
A meta é que, em 10 anos, os
produtos norte-americanos tenham a qualidade americana com o preço
chinês. Por fim, Santos prevê que entre 2065 e 2095 haverá uma nova
guerra mundial, de transição hegemônica no mundo.
Educação
Nos próximos 30 anos, a educação vai mudar radicalmente, diz o
professor da Fundação Dom Cabral. As aulas virtuais vão fazer
desaparecer as salas de aula no formato atual, haverá a fusão
homem-máquina. Na educação executiva, o papel do professor será mais de
facilitador.
Muito conhecimento nos moldes de hoje vai desaparecer e a necessidade de professores vai cair sensivelmente.
—
Os professores são os menos preparados para isso, o aluno está mais
preparado, hoje ele já pergunta qual será o game para jogar a matéria.